CRÔNICA


Crônica: Gênero entre jornalismo e literatura

Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos.


Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:

O nascimento da crônica
“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...)
(Machado de Assis. "Crônicas Escolhidas". São Paulo: Editora Ática, 1994)

ESFERA: Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos.
A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.

LEITOR PRESSUPOSTO: é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.

Jornalismo e literatura
É assim que podemos dizer que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo.
Leia a seguir uma crônica de um dos maiores cronistas brasileiros:

Recado ao Senhor 903

“Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.

[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”

(Rubem Braga. "Para gostar de ler". São Paulo: Ática, 1991)

Fato corriqueiro...
Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.

No caso da crônica "Recado ao Senhor 903", há uma crítica à desumanização na cidade grande, na qual somos, muitas vezes, apenas números e não pessoas. O surpreendente é a inversão proposta pelo narrador ao final da crônica: no lugar da intolerância, tão comum nas cidades grandes, ele propõe um possível acolhimento amigo.
Outro aspecto é que as personagens das crônicas não têm descrição psicológica profunda, pois, são caracterizadas por uma ou duas características centrais, suficientes para compor traços genéricos, com os quais uma pessoa comum pode se identificar. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou têm nomes comuns: dona Nena, seu Chiquinho, etc...



Análise da linguagem
1) Intenção e linguagem

O narrador-personagem da crônica (ou remetente da carta ao vizinho) reconhece que faz barulho e por isto pede desculpas. Veja, assim, as palavras e afirmações que usou para construir essa ideia: "consternado", "desolado", "lhe dou inteira razão", "O regulamento do prédio é explícito", "Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso", "Peço desculpas", "Prometo silêncio".


No entanto, através de ironias, o narrador reconhece sua falta, mas explicita que não concorda com a situação, uma vez que a aborda também de outro ângulo, problematizando as relações entre as pessoas e não simplesmente aceitando a situação como algo imutável. 

E faz isso, especialmente, quando:

  • ironiza a estruturas dos prédios em que as pessoas ficam empilhadas, perdendo o contato humano;
  • refere-se a todos os vizinhos, incluindo ele próprio, pelo número do apartamento e não pelo nome;
  • critica o isolamento e a distância entre as pessoas cujas vidas estão limitadas pelas normas que cerceiam o convívio humano;
  • sonha com outra relação mais humana e fraterna, entre as pessoas.

2) Ironia e humor
a) Veja como o narrador usa uma fina ironia quando fala de si mesmo e dos motivos das reclamações do vizinho:
"Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua." Verifique ainda como o uso do elemento "apenas", usado duas vezes intensifica a sua exclusão em relação aos demais moradores do prédio.
b) O excesso de referência a números acaba por criar um efeito de humor e crítica social:
"Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305."

Enfim, o efeito de humor tem a ver com:

  • o contraste entre uma situação e outra: os que mantêm silêncio e pessoas, como o narrador, que não o fazem;
  • o inesperado: o texto parece se encaminhar para um sentido e bruscamente aponta para outro.

3)Uso de verbo
Quando o narrador quer sonhar com uma outra situação em relação, não só à sua vizinhança, mas também à vida na cidade grande, veja que ele constrói essa ideia usando verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, o que indica possibilidade/desejo/hipótese:

"Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: 'Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou'. E o outro respondesse: 'Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela'.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

4)Uso dos artigos
Releia os trechos:
a) "Quem fala aqui é o homem do 1003.".
Foi usado o artigo definido ( o ), quando o narrador refere-se a si mesmo, particularizando, dessa forma, um indivíduo, entre outros.
b) "Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse (...). E o outro respondesse (...)"
artigo indefinido ("um homem"), quando foi introduzido um elemento ainda não citado no texto, generalizando-o. Há artigo definido ("o outro"), quando novamente se tem um indivíduo já citado, particularizando-o.
Veja que essas escolhas linguísticas vão constituindo a ligação/coesão entre as partes do texto, de tal maneira que, mais do que saber o nome das classes da gramática - substantivos, adjetivos, artigos, advérbios, verbo, conjunção, pronome, preposição, numeral - é importante saber suas articulações na construção dos sentidos de um texto.

Características das crônicas 
A crônica é um texto narrativo que:
  • É, em geral, curto;
  • Trazem as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos;
  • É organizado em torno de um único núcleo, um único problema;
  • Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.
  • O discurso: Texto curto e inteligível (de imediata percepção); 
  • Apresenta marcas de subjetividade – discurso na 1ª e 3ª pessoa;
  • Pode comportar diversos modos de expressão, isoladamente ou em simultâneo:
- narração;
- descrição;
- contemplação / efusão lírica;
- comentários;
- reflexão.

  • Linguagem com duplos sentidos / jogos de palavras / conotações;
  • Utiliza a ironia;
  • Registro de língua corrente ou cuidado;  geralmente emprega a variedade informal da língua;
  • Pode apresentar discurso direto, indireto e indireto livre, que vai da oralidade ao literário;
  • Predominância da função emotiva da linguagem sobre a informativa;
  • Vocabulário variado e expressivo de acordo com a intenção do autor;
  • Pontuação expressiva;
  • Emprego de recursos estilísticos;
  • A temática:  Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia; 
  • Aborda aspectos da vida social e quotidiana; 
  • Transmite os contrastes do mundo em que vivemos; Apresenta episódios reais ou fictícios;
  • O narrador pode ser observador ou se constituir em personagem; 
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A crônica pode receber diferentes classificações:

- a lírica, em que o autor relata com nostalgia e sentimentalismo;

- a humorística, em que o autor faz graça com o cotidiano;
- a crônica-ensaio, em que o cronista, ironicamente, tece uma crítica ao que acontece nas relações sociais e de poder;
- a filosófica, reflexão a partir de um fato ou evento;
- e jornalística, que apresenta aspectos particulares de notícias ou fatos, pode ser policial, esportiva, política etc.



Podemos identificar duas maneiras de se produzir uma crônica: 
  • a primeira é a narrativa, que como já foi dito, conta um fato do cotidiano, utilizando-se de personagens, enredo, espaço, tempo, etc. 
  • a segunda é a crônica dos textos jornalísticos, é uma forma mais moderna do gênero, e ao contrário da outra não narra e sim disserta, defende ou mostra um ponto de vista diferente do que a maioria enxerga.

As semelhanças entre as duas são justamente o caráter social crítico, abordando sempre uma maneira de enxergar a realidade, e o tom humorístico, irônico ou até mesmo sarcástico. Podem se utilizar, para esse objetivo, de “personagens tipo”, da sociedade que criticam.

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OBSERVAÇÃO:

Partilha fatos do cotidiano com seu leitor, dando singularidade a eles.
Traz aspectos de oralidade para a escrita: expressões de conversa familiar e íntima, repetições e o pronome “você”.
Emprega verbos flexionados na primeira e terceira pessoas.
Vale-se do discurso direto no diálogo, verbos de dizer.
Usa marcas de tempo e lugar que revelam fatos do cotidiano.
Cobrança – Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".
Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.
― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
― Posso lhe dar um guarda-chuva...
Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.

O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001.   

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Da janela do meu quarto

Neste mundo moderno em que as cidades estão cada vez mais urbanizadas, da janela do meu quarto, vejo muros de concreto, janelas e telhados de casas vizinhas  e prédios.
Ao amanhecer não se vê mais o sol aparecer, as casas e prédios deixaram  minha casa ilhada.
Um galo solitário anuncia a chegada do sol e da janela do meu quarto observo o dia clarear.
Pássaros gorjeiam aqui perto, um cão late.
Começa o dia com o barulho dos carros e motos na avenida; da  janela do meu quarto observo o movimento da rua; mães levando crianças para escola e adolescentes também  vão para escola.Homens  e mulheres saindo para o trabalho.
Eu, da janela  do meu quarto,observo tudo e fico relembrando aquele tempo em que ;da janela  do meu quarto eu via o sol colorir o céu de alaranjado e despontar  radiante;anunciando o começo do dia.Com a brisa suave empurrando a cortina me despertando ,juntamente com o barulho somente dos pássaros.
Atualmente só temos a poluição visual e sonora que “grita”, da janela do meu quarto.
Edmeia 11/05/2009 (Código do texto: T1587530 - http://www.recantodasletras.com.br)


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INSTRUMENTOS PARA REESTRUTURAÇÃO E AVALIAÇÃO DO TEXTO

ROTEIRO PARA AUTOAVALIAÇÃO – GÊNERO CRÔNICA
ATENDE 
PARCIAL
MENTE
NÃO ATENDE
ATENDE
                    
Tema
O texto se reporta de forma significativa e pertinente a algum aspecto do cotidiano?
1,5






Adequa-ção ao gênero


Discursi-va
A situação de produção própria da crônica se manifesta no texto?

2,5
A organização geral do texto está de acordo com o tipo de crônica escolhido (política, cultural, esportiva, humorística)?




Linguísti-ca
Os marcadores de tempo e espaço contribuem para caracterizar a situação tratada?
2,5
 Os articuladores textuais são apropriados ao tipo de crônica escolhido pelo autor?
Os recursos de linguagem estão adequados ao tom visado (irônico, humorístico, lírico ou crítico)?
Marcas de autoria
O título instiga o leitor?

2,0
Há um modo peculiar de perceber e apresentar a situação tratada? 

    
Convenções da escrita
O texto atende às convenções da escrita (morfossintaxe, Ortografia,
acentuação, pontuação)? 

1,5
Quando há rompimento das convenções da escrita, isso ocorre a serviço do sentido do texto? 


PLANILHA DE CORREÇÃO DE REDAÇÃO (SARESP)


TABELA PARA A REESTRUTURAÇÃO E REFACÇÃO TEXTUAL DO TEXTO NARRATIVO
O QUE FALTA NO TEXTO:
1.          Título relacionado ao tema
2.          Descrição do personagem
3.          Conflito/coerência
4.          Mais de um conflito
5.          Espaço
6.          Tempo cronológico e psicológico
7.          Clímax
8.          Descrição
9.          Tipos de Narrador
10.      Clima literário
11.      Recursos coesivos
12.      Sequência lógica
13.      Clareza das ideias
14.      Coerência das ideias em relação ao tema
15.      Seleção de ideias
16.      Letra  legível
17.      Letra maiúscula
18.      Adequação vocabular
19.      Pontuação
20.      Paragrafação
21.      Inadequações no registro
22.      Verifique a Ortografia
23.      Cuidado com a separação silábica
24.      Acentuação
25.      Use crase
26.      Falta de Concordância
27.      Verifique a concordância verbal
28.      Verifique a concordância nominal
29.      Incoerência verbal
30.      Incoerência textual: 1ª e 3ª pessoas
31.      Use ponto final
32.      Use vírgula
33.      Retire a vírgula
34.      Use dois pontos
35.      Use ponto e vírgula
36.      Use ponto de interrogação
37.      Use ponto de exclamação
38.      Use parênteses
39.      Retire os parênteses
40.      Use aspas
41.      Retire as aspas
42.      Use discurso direto
43.      Use letra minúscula
44.      Use letra maiúscula
45.      Inicie um novo parágrafo
46.      Faça maior marcação de parágrafo
47.      Colocação confusa. Reescreva o fragmento sublinhado
48.      Termo vago
49.      Termo incorreto. Substitua-o.
50.      Termo repetitivo. Substitua-o por um sinônimo ou palavra correspondente.
51.      Termo desnecessário. Retire-o.
52.      Falta algum termo.
53.      Transfira este termo para o local indicado.

54.      Retire o ponto final



 TEXTOS NARRATIVOS



O aluno deve demonstrar habilidade em

Nível 1
Insuficiente

Nível 2
Razoável

Nível 3
Bom

Nível 4
Muito bom
TEMA
Coerência das ideias em relação ao tema




Seleção de ideias




GÊNERO TEXTUAL
Título relacionado ao tema




Personagem




Conflito/coerência




Mais de um conflito




Espaço




Tempo cronológico e psicológico




Clímax




Descrição




Tipos de Narrador




Clima literário




COESÃO E COERÊNCIA
Recursos coesivos




Sequência lógica




Clareza das ideias




REGISTRO
Letra  legível




Letra maiúscula




Adequação vocabular




Pontuação




Paragrafação




Ortografia




Acentuação




Concordância




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Definição:

Para Coutinho, (1) os gêneros literários se diferenciam pela relação direta ou indireta entre autor e leitor. Possuem relação direta com o leitor, os autores que escrevem ensaios; crônicas; discursos; cartas; apólogos; máximas; diálogos; memórias. A relação indireta é estabelecida nos contos; novelas; epopéias; romances; gêneros narrativos, líricos e dramáticos.

Etimologicamente, a palavra crônica remete ao termo grego Kronos (tempo). Segundo o dicionário Morais, (2) a crônica é a história escrita conforme a ordem do tempo; de modo que os fatos narrados se referem diretamente a este. Da mesma forma, o Frei Domingos de Oliveira (3) compreende o tempo como o elemento organizador do gênero. Diferentemente da história, os fatos não são estudados para se estabelecer entre estes causas e conseqüências, mas simplesmente para narrá-los.

Arrigucci(4) introduz outro importante elemento nestas definições sobre a crônica: a memória. Na crônica, o tempo é o centro da narração dos fatos, mas estes não são narrados tal como aconteceram, mas tal como os recorda o cronista. Este é um “hábil artesão da experiência” e, ao transformar fatos em matéria narrada, resignifica os acontecimentos de acordo com as impressões que obteve destes.

b) Um gênero menor?

Mesmo para os próprios cronistas, a crônica é tida como um gênero menor em relação aos outros gêneros literários. Em Escrever para jornal e escrever livro, publicado em 29 de julho de 1972, Clarice afirma:

(...)num jornal nunca se pode esquecer o leitor, ao passo que no livro fala-se com maior liberdade, sem compromisso imediato com ninguém. Ou mesmo sem compromisso nenhum (...) não há dúvida de que eu valorizo muito mais o que escrevo em livros do que o que eu escrevo para jornais.

Para Antonio Dimas, (5) um dos motivos indiscutíveis para este descaso é a feição financeiramente utilitária do gênero que proporciona aos escritores a possibilidade de um salário fixo e de uma vida financeira estável que não seria possível com os livros. Paulo Mendes Campos, por exemplo, se justifica: Precisava ganhar dinheiro. Só de poesia, só de literatura, não se vive. (6) O fato é que o autor se sente degradado ao ser obrigado a vender sua força de trabalho para sobreviver, ao mesmo tempo em que necessita deste dinheiro como forma de sustentar suas atividades na “Grande Literatura”.

Clarice Lispector, citada por Dimas, afirma: Talvez nem escrevesse em jornal se não tivesse necessidade. A autora faz uma queixa semelhante a esta na crônica Anonimato, publicada em 10 de fevereiro de 1968: Aliás, eu não queria mais escrever. Escrevo agora porque estou precisando de dinheiro. 

O cronista sente a necessidade de se justificar pela dedicação a esta necessidade degradante da sobrevivência financeira. Em Ser Cronista de 22 de junho deste mesmo ano, Clarice cita o conselho que recebeu de um amigo, que tenta justificar a venda do trabalho do escritor: Todos seus leitores hão de entender que sua crônica semanal é um modo honesto de ganhar dinheiro.

Outra causa para o descaso com o gênero é a efemeridade do veículo em que as crônicas se inserem. Jorge de Sá (7) afirma: O jornal nasce envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crônica também assume esta transitoriedade. O fato de que a crônica é destinada a ser lida e esquecida, faz com que os críticos não atribuem ao gênero o status literário do romance ou do conto.

Não apenas o veículo como os assuntos a serem abordados na crônica devem ser efêmeros e esta efemeridade é considerada muitas vezes como característica de uma literatura tida como frívola e superficial. A crônica é entendida como um descanso para o leitor diante das outras notícias do jornal. Desprovida do rigor jornalístico das reportagens e do rigor literário dos romances, a crônica é desmerecida, portanto, tanto em relação à Literatura quanto ao Jornalismo, tornando-se, nas palavras de Machado de Assis, “uma fusão admirável entre o útil e o fútil”.

Há uma delimitação clara dos temas sobre os quais um cronista pode – e deve- escrever: comentários sobre as notícias em evidência no jornal em que a crônica se insere ou sobre fatos cotidianos que não mereceram a atenção dos jornalistas e do público leitor. A atividade do cronista é narrar estes fatos segundo o seu ponto de vista, sem se deter especificamente em nenhum, dando a estes uma leveza característica do gênero. Machado de Assis ironiza esta condição:

O folhetinista, na sociedade ocupa o lugar do colibri na esfera vegetal: solta, esvoaça; brinca; tremula; paira; espaneja-se sobre todos os caules suculentos, sobre todas as seivas vigorosas. Todo o mundo lhe pertence; até mesmo a política (8).

A escolha pelo tom menor do bate-papo entre amigos e por assuntos menos relevantes em relação aos outros textos do jornal e aos romances dos cronistas, determina que a crônica se coloque em um território de difícil definição, como será discutido a seguir. Para Antonio Candido, (9) esta é sua maior vantagem em relação aos outros textos jornalísticos ou literários. Para o autor, ao se tornar mais acessível aos leitores, a crônica é capaz de comunicar mais sobre a condição humana e sobre a vida do que os estudos intencionais.

Da mesma forma, para Arrigucci, a crônica ao tratar dos pequenos acontecimentos diários, ao contrário de introduzir em um status literário inferior aos romances e contos, é capaz de atingir a mais alta poesia. Esta despretensão, para Antonio Candido, humaniza o texto permitindo “como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade”. Assim, retirado o status literário e a seriedade jornalística e resignificando os fatos, a crônica se aproxima do leitor sem que para isto seja preciso diminuir a seriedade dos problemas abordados.

Para Dimas, esta aproximação entre leitores e autores permite o “desnudamento do autor perante o público” e, a partir deste desnudamento, seria possível delimitar as matrizes ideológicas do autor, de forma diferente do que seria feito pela observação das outras produções literárias deste. Há uma marca de pessoalidade que caracteriza o gênero, como se o autor se aproximasse do público, aproximando também, desta forma, o leitor das notícias publicadas no jornal. Leitor e autor tornam-se amigos íntimos e comentam com despretensão os assuntos em pauta não pela importância nacional destes, mas pela forma particular e pessoal com que estes temas os tocaram.

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CRÔNICAS VARIADAS - Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

CRÔNICA DE Paulo Mendes Campos

Os diferentes estilos
Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descrever de todos os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjetivo – Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!

Estilo colorido – Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou um cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.

Estilo antimunicipalista – Quando mais um dia de sofrimentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas freqüentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma  construção (já permitiram, por debaixo do pano, a ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado  morador desta cidade  sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam naquele perigoso foco de epidemias. Até quando?

Estilo reacionário – Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram na manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já não bastasse para enfear aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio.

Estilo então – Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isso.

Estilo áulico – À sobremesa, alguém falou ao presidente que na manhã de hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares telegrafasse em seu nome à família enlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda não fora identificada, S. Exª, com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das suas apreciadas blagues.

Estilo schmidtiano – Coisa horrível é o encontro com um cadáver desconhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava-se com alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele não estava ali, ingressara para sempre no reino inviolável e escuro da morte, este rio um pouco profundo caluniado de morte.

Estilo complexo de Édipo – Onde andará a mãezinha do homem encontrado morto da Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou em seus braços carinhosos?

Estilo preciosista – No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela d’Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.

Estilo Nélson Rodrigues – Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!

Estilo sem jeito – Eu queria ter o dom da palavra, gênio de um Rui ou o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimentos são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.

Estilo feminino – Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha’s, legalíssimo, e dormi tarde. Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estava tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente morta!

Estilo lúdico ou infantil – Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construção por baixo. A vítima por baixo não trazia identificação por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.

Estilo concretista – Dead dead man man mexe mexe Mensch Mensch MENSCHEIT.


Estilo didático – Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teológico. Policial: o homem e a sociedade; humano: o homem em si mesmo; teológico: o homem em Deus. Polícia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores vêem. 

(CAMPOS, 2005, p. 43-6).



Como é próprio da crônica, é preciso captar o instante e dele retirar o máximo possível. Do mesmo modo, exige do leitor que mobilize seus conhecimentos de mundo para se ligar aos referenciais suscitados pelo texto. Entretanto, não há o impedimento da compreensão do texto como um todo sem a localização de certos referenciais, como Estilo schmidtiano ou Estilo Nélson Rodrigues. No primeiro caso, há uma referência ao estilo eloquente do escritor e poeta Augusto Frederico Schmidt, que participou da primeira geração modernista. Nélson Rodrigues é retratado como portador de um estilo seco, sem grande eloquência, que se atém ao detalhe pouco esperado.


REFERÊNCIA:

1.Coutinho, Afrânio: Ensaio e crônica; in: A literatura no Brasil. Rio de Janeiro; José Olympio Editora, 1986.

2.Apud Coutinho, op. cit.

3.Idem.

4. Arrigucci, Davi Jr: Fragmentos sobre crônica, in: Enigma e comentário: ensaios sobre Literatura e experiência. São Paulo, Companhia das Letras, 1987.

5. Dimas, Antonio: Ambigüidade da crônica: literatura ou jornalismo? In: Littera, nº 12, ano IV – set. dez. 1974.

6. Apud Dimas, op. cit.

7. Sá, Jorge de: A crônica. São Paulo: Editora Ática, Série Princípios, 1985.

8. Assis, Machado de: A semana. São Paulo, Editora Hucitec, 1996.

9. Candido, Antonio: A vida ao rés-do-chão, in: A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, Editora da Unicamp, 1992


Araújo, A. Ana Paula de  http://www.infoescola.com/redacao/cronica-literaria

Fascículo "A ocasião faz o escritor" : caderno do professor : orientação para produção de textos / [equipe de produção Maria Aparecida Laginestra, Maria Imaculada Pereira]. — São Paulo : Cenpec, 2010. (Coleção da Olímpiada)


NERY, Alfredina.  Pedagogia e Comunicação é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura. EDUCAÇÃO UOL, Especial para a Página 3. in
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/cronica-genero-entre-jornalismo-e-literatura.htm

Souza,Thais Torres de. IN http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/c00012.htm#_ftn6

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Katty Rasga