terça-feira, 24 de abril de 2012

GÊNERO INTERROGATÓRIO

Segundo Bezerra (2002), o interrogatório é um ato judicial, em que se indaga ao acusado sobre os fatos imputados contra ele advindo de uma queixa ou denúncia, dando-lhe ciência ao tempo em que oferece oportunidade de defesa. Logo, o interrogatório possui um caráter híbrido, visto que é considerado tanto meio de prova, bem como ato de defesa (autodefesa).

Existem os momentos, fixados pelo Código de Processo Penal, para realização do interrogatório, quais sejam: no inquérito policial; no auto de prisão em flagrante ; logo após o recebimento da denúncia ou queixa e antes da defesa prévia ; no plenário do júri e no Tribunal, em processos originais ou no curso da apelação (art.616).

O interrogatório traz em seu bojo as seguintes características: é ato público, é ato personalíssimo, possui judicialidade e, finalmente, oralidade.

É ato personalíssimo porque só o acusado pode ser interrogado. Possui judicialidade porque cabe ao juiz e só ele interrogar o acusado. Na oralidade, a palavra do acusado, circundada de sua atitude, pode dar ao juiz um elemento insubstituível por uma declaração escrita, despida dos elementos de valor psicológico que acompanham a declaração falada.

Quanto ao contexto de produção....... este é um gênero oral, e vocês estão fazendo a reprodução da fala original, o que é uma característica de registro deste gênero.

Como no exemplo:
Excerto 1 (ABUSO SEXUAL DE MENOR, 2007, 02:47-52)

47 inspetor -muito bem (mexe em papeis) então a senhora e a dona Marta da Silva não é isso?
48 mãe - aham.
49 inspetor- esse rapaz que tá na minha frente ai é o André ((menor, possível vítima de abuso sexual)) não e isso?
50 mãe - aham.
51 inspetor - tá deixa eu perguntar pra senhora
- tá constando aqui pra gente, tá que a senhora fez o boletim de ocorrência, tá aqui com a gente, não á isso?
- da polícia civil, né? dia dezesseis de abril, é isso mesmo, não é isso?

O texto de um interrogatório é mantido assim.

SOBRE A ORALIDADE

Outras situações: sendo mais espontânea e criativa, a língua popular se afigura mais expressiva e dinâmica. A informalidade prevalece sobre a norma culta, deixando mais livres os interlocutores.

Tô preocupado. (língua popular)
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo.

Abaixo um gráfico (MARCUSCHI, 2001, p. 41), que mostra a relação da fala com a escrita . Vocês poderão ver que fala e escrita apresentam-se num continuum que abrange vários gêneros textuais. Há uns que se aproximam mais da fala; outros, mais amplos no contexto, estão mais próximos da escrita.


MARCUSCHI (2001) elaborou um modelo para as operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito:

1ª. operação: Eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de palavras:

Por exemplo: “eh...eu vou falar sobre a minha família... sobre os meus pais...o que eu acho deles...como eles me tratam...bem...eu tenho uma família...pequena...ela é composta pelo meu pai... pela minha mãe... pelo meu irmão... eu tenho um irmão pequeno de ... dez anos... eh... o meu irmão não influencia em nada... minha mãe é uma pessoa superlegal...sabe?”

Nesse texto percebem-se as hesitações como: eh..., de...; a marca interacional, como: sabe?

2ª. operação: Introdução da pontuação.

3ª. operação: Retirada de repetições, reduplicações e redundâncias.

MARCUSCHI, “Da fala para escrita” (2001, p.75)



Segundo Ferronato, “as ações feitas para a retextualização podem ser assim sintetizadas:

1. Ponto de partida – texto base para a produção final escrita.

2. Texto transcodificado - simples transcrição, incluindo o aspecto da

compreensão, o qual vai repercutir no texto final.

3. Transcrição – sem pontuação, sem inserções e sem eliminações mas com indicações como: sorriso, movimento do corpo etc.

4. Adaptações implicam perdas como, por exemplo, entonação, qualidade da voz.

5. Texto final: após as operações de retextualização, tem-se a versão final escrita.”

Referência:

FERRONATO, Vera Lúcia de A. S. “A FALA E A ESCRITA EM QUESTÃO: RETEXTUALIZAÇÃO” IN http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem10pdf/sm10ss02_09.pdf.Último acesso: 20 abril 2012.


MARQUE, Débora. (2008) “A TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO SEQÜENCIAL DA VERDADE NUM INTERROGATÓRIO POLICIAL DA DELEGACIA DE REPRESSÃO A CRIMES CONTRA A MULHER” in http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo51.pdf . Último acesso: 20 abril 2012.

Curiosidade:
INTERROGATÓRIO NA LITERATURA - ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Um comentário:

  1. Katty, quantas ideias novas podemos ter visitando seu blog, gostaria que você fosse professora de geografia, pois assim poderia aproveitr melhor.

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Grata pela sua participação.
[]s.
Katty Rasga